olhar de esguelha

Estou numa viagem em que esqueço por completo esta meta, a estrada fica distorcida à medida que avanço, os sinais passam por mim com o seu aviso quase mudo para quem tem pressa de chegar ao seu destino, destino esse que pode mudar a qualquer altura, de um momento para o outro não regressam a casa e deixam-se levar pela fúria da velocidade levando consigo muitas outras almas inocentes, amantes da vida. Nesta viagem permaneço com o meu olhar de infância, como se tudo o que eu visse agora, fizesse parte da minha primeira vez em que descobri as maravilhas do mundo, tudo anda à minha volta, as árvores aparentam acenar para mim conforme a direcção do vento, as placas dão-me as boas vindas, umas já antigas, cheias de traços de recordações da sua população, outras estão escrevinhadas pela rebeldia da juventude que pretende afirmar a sua independência, papéis imundos de publicidade voam, deixando de ser apenas objectos inanimados, passando a ganhar um pouco daquela beleza resultante de um misto esverdeado mas pouco nítido. Os animais sentem a minha presença como uma ameaça, e seguem-me com os seus olhares intimidados. As crianças param de brincar, e a sua curiosidade invade-me a mente, e a recordação daquela imagem fica na minha memória eternamente.